MEP - Movimento Evangélico Progressista

O Objetivo deste BLOG é compartilhar os registros, documentos e imagens de encontros e congressos do MEP.

Permitir a seus participantes, e pesquisadores, encontrar e postar informações e imagens, realizando pesquisas e agregando comentários.





quinta-feira, 25 de outubro de 2012

História de Nestor Cozetti


Experiência no Fórum Social Mundial


Descreverei sucintamente minhas impressões do Fórum Social Mundial 2009 - Pan Amazônia. Muitas palestras, eventos, apresentações, reflexões e todo tipo de manifestação cultural aconteciam ao mesmo tempo. Por isso, é uma descrição muito particular apenas do que presenciei, a vontade era de estar em vários lugares ao mesmo tempo.

A Cidade de Belém do Pará
Belém, a cidade das Mangueiras, foi a Sede do FSM 2009. A cultura local é muito rica e peculiar, além do povo muito hospitaleiro. Desde o Mercado Ver-o-peso, as Docas (porto), a gastronomia  maravilhosa (tucupi, tacaca, cupuaçu, açaí etc) até a música tudo é interessante. Enfim, como toda metrópole brasileira tem seus problemas, no entanto é uma cidade agradável.

O Fórum
“O Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço aberto de encontro – plural, diversificado, não-governamental e não-partidário –, que estimula de forma descentralizada o debate, a reflexão, a formulação de propostas, a troca de experiências e a articulação entre organizações e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo, mais solidário, democrático e justo.” Para saber mais http://www.fsm2009amazonia.org.br/o-que-e-o-fsm
Desde a sua primeira edição que aconteceu em 2001, o FSM promove a articulação de várias organizações e pessoas em prol de novas propostas para a sociedade. Nesta edição de 2009 sua realização na Pan Amazônia reforçou o enfoque ecológico além do social.
O FSM 2009 foi realizado num contexto de crise mundial econômica, ambiental, energética e política, suscitando assim definição de Objetivos do FSM para o alcance de uma sociedade mais sustentável e justa.
A programação foi dividida segundo a temática dos seus objetivos que seriam basicamente: 1 - paz, justiça e ética; 2 - contra desigualdade social; 3 - acesso universal e sustentável aos bens comuns da humanidade; 4 - democratização do conhecimento; 5 – dignidade e igualdade; 6 - direitos humanos; 7 - soberania dos povos; 8 - economia sustentável e solidária; 9 - democracia política; 10 - defesa da natureza; 11 – outros.

Dia 27
A abertura do Fórum se deu com uma marcha onde vários grupos foram representados como indígenas, sindicatos, GLS, Ong's Ambientalistas, partidos políticos, um pequeno grupo de evangélicos, entre outros. Havia também grupos manifestando opiniões e fazendo protestos.
Era um momento muito plural de expressão, com respeito mútuo dos participantes às manifestações alheias. O trajeto foi em partes o mesmo da famigerada festa Católica da cidade de Belém – o Círio de Nazaré. Houve momentos de descontração com a dança de grupos indígenas, música de carimbó (ritmo típico do Pará) e apresentações de grupos culturais étnicos.
Foi interessante observar a diversidade da marcha, pessoas com interesses tão diferentes ali juntas. Embora possa ter havido alguns incomodados em andar lado a lado com pessoas de opiniões e comportamentos adversos, percebi que para a grande parte, não era apenas um esforço de ser “politicamente correto” convivendo com as diferenças, mas uma atitude genuína de procurar compreender, ouvir e respeitar o outro, suas aflições e o que se poderia fazer para melhorar a vida de todos e não só a própria vida.

Dia 28
No primeiro dia de atividades foi realizado o “Dia da Pan Amazônia”, foram discutidos temas como mudanças climáticas, modelos energéticos e soberania alimentar. Foi difícil decidir a programação pois as palestras eram com especialistas e estudiosos dessas áreas. Por fim optei por priorizar meio ambiente e movimentos cristãos, apesar de ter interesse em outras áreas. No primeiro dia fui me familiarizando com o campus das universidades UFPA e da UFRA que tinham área de floresta preservada e ficam à margem do Rio Guamá.
Montagens como A Casa de Farinha e a Tenda de 50 anos da Revolução Cubana foram muito visitadas. Neste dia aconteceram inúmeros shows e manifestações culturais. Foi um dia especial para conhecer pessoas de todos os lugares do Brasil e também do exterior. Por toda parte havia também muitos grupos indígenas, mostrando sua cultura e pintando tatoos de jenipapo com desenhos tribais.
Destaque para a palestra do Greenpeace sobre desmatamento e mudanças climáticas, ao final foi distribuída aos participantes um mapa do desmatamento da Amazônia.
 
Campus da UFPA: Casa de Farinha, canoa em pleno campus e Rio Guamá visto do campus

Dia 29
Pela manhã, no sol quente de Belém a palestra de Frei Beto trouxe a temática de fé, amor e desigualdades sociais. Cita passagens bíblicas conhecidas observou que nos relatos bíblicos, os que possuem vida confortável perguntam a Jesus como alcançar a vida eterna. No entanto, a fala dos pobres é uma petição à Jesus de cura, de milagres e de pão. Ser humano é lutar pela plenitude da vida nesta vida, para que todos tenham o direito de viver e não sobreviver. O amor fecunda o universo com paz e igualdade.
À tarde participei das articulações do grupo Evangélicos pela Justiça[1], discutiu-se o papel do cristão enquanto cidadão, a participação nas políticas públicas. Houve enfoque para ir contra a apatia e conformismo de um mundo injusto.
Neste dia em outro canto da cidade estiveram os presidentes do Brasil, Paraguai, Venezuela, Equador e Bolívia. Estes discorreram sobre a crise financeira mundial, Amazônia, políticas públicas e desigualdades sociais.

Dia 30
ABUB e FALE [2]  fizeram articulações dos jovens cristãos no Conselho Nacional de Juventude.
Entre estas barracas do Acampamento da Juventude do FSM, conhecido e apresentado pela mídia como um lugar de consumo de entorpecentes e promiscuidade, estava acampado o grupo cristão de evangelismo Avalanche http://www.avalanchefsm.blogspot.com/, igrejas de Belém também fizeram parceria para distribuição de alimentação, apresentações e atividades diversas.
Ao cair da tarde fui com um grupo do FALE e da ABUB para o acampamento onde houve um momento de reflexão com o tema “Jovens pela Justiça”. Não houve nenhum incidente ou desconforto, pelo contrário, vários acampantes não-cristãos participaram conosco.

Dia 31
O culto ecumênico contou com a presença de pessoas de várias religiões. Foi um momento especial de celebração. O pessoal da ABUB e os músicos cristãos do acampamento tocaram  no louvor.
O evento do FALE [3] informava as condições drásticas da Grota Criminosa do Município de Marabá (PA) e convocava a manifestação para chamar a atenção da Vale do Rio Doce[4] para e o Saneamento Ambiental. O desenvolvimento da Amazônia, também surgiu durante a discussão. Há controversas sobre como e qual modelo de desenvolvimento para a Amazônia deve ser praticado. Se for seguido o modelos das demais regiões brasileiras o quadro será de devastação. Por outro lado os nortistas almejam o desenvolvimento local com sustentabilidade.

Dia 01
No último dia aconteceram as Assembléias Gerais, onde as organizações deliberaram e afirmaram compromissos.  Durante todo o fórum foram distribuídos inúmeros materiais de ONGs e movimentos. E embora houvesse falhas na organização, o evento como um todo é importante no contexto de mudanças e incertezas para a construção de novos paradigmas.


Cenas : Cartaz da economia solidária no FSM, “Abraço Grátis” no acampamento da juventude, cartaz com versículo Is. 35:8 no Acampamento da Juventude e  minha tatoo de jenipapo feita por um índio

Considerações



Eu e minhas primas paraenses. Lindas né?
Tive vários momentos de conversas com pessoas dos mais diversos movimentos sociais e ambientais. A impressão primeira era de que havia um certo romantismo. No entanto, com uma conversa mais profunda tornava-se perceptível o realismo, a organização, o plano de metas, e principalmente as ações que desencadeariam a conquista de objetivos. Isso tornaria as utopias possíveis. A esperança e ação desmoronam o ceticismo e arranca as raízes do conformismo.


Uma das coisas mais marcantes pra mim foi a rica troca de experiências. Havia uma miscigenação de cores, estilos e múltiplas identidades presentes no FSM. Conheci pessoas com belas histórias de vida e de luta. Na verdade, para os desfavorecidos na maioria das vezes vida e luta são sinônimos.
O desenvolvimento sustentável, um termo que vêm se consolidando a cada dia, não é a panacéia para todos os problemas da humanidade, mas abre um caminho para um mundo com melhores condições sócio-econômicas e ambientais.

O igarapé no quintal dos meus tios.


Como um dos idealizadores do FSM, Oded Grajew diz que o Fórum aponta caminhos e muda consciências, mas é preciso ação para o alcance dos objetivos.

Enfim, tenho muita história pra contar dessa viagem... de certa forma mudou muita coisa na minha visão de mundo... Espero que eu possa ter compartilhado o essencial.

Abraços

Leonara Almeida
Engenharia Ambiental e Urbana
Universidade Federal do ABC – Santo André – SP
ALUMI – “Campos Além do Campus”


[1]              WWW.evangelicospelajustica.blogsplot.com
[2]              ABUB – Aliança Bíblica Universitária www.abub.org.br
[3]              Rede de pessoas que oram e se manifestam contra a injustiça www.fale.org.br
[4]              A Vale atua no município de Marabá e Serra Pelada na extração de minérios há décadas.

CARTA DE SÃO PAULO

MEP – Movimento Evangélico Progressista

Nós mepeanos reunidos no dia 22 de novembro de 2008, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, no Plenário Dom Pedro I, na semana que é comemorado o dia da consciência negra, reefatizamos as Finalidades do MEP, expressas em seu estatuto, a saber:
Mobilizar membros de igrejas evangélicas para defender os princípios do Evangelho na política e zelar para que sejam respeitados;
Pronunciar-se e posicionar-se em nome de seus membros sobre fatos relevantes da vida nacional, exercendo deste modo ação pastoral, reflexão teológica, diaconia e ministério profético, denunciando iniqüidades sociais, violações aos direitos humanos e ao meio ambiente;
Contribuir ativamente para viabilizar as demandas sociais de que o país necessita;
Contribuir para a formação integral de seus membros e, por instrumentalidade destes, das organizações de que façam parte, visando sua conscientização e capacitação para o exercício da plena cidadania e da missão integral da Igreja;
Busca da unidade da igreja da família evangélica e cristã juntamente com outras organizações em torno desses ideais;
Articular e organizar em nível nacional, um movimento de conscientização e ação visando a participação plena dos evangélicos na vida política do país.

Portanto, considerando suas finalidades expressas na participação social e política , definimos como metas: a ampliação do diálogo com  igrejas e entidades evangélicas, movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos, centrais sindicais, parlamentos e governos.

Reconhecendo o avanço do governo Lula na diminuição dos problemas sociais brasileiros e visando a ampliação da justiça social, o MEP decide por campanhas diversas elaboradas pelo próprio movimento e, ou em parceria com movimentos sociais e outras entidades. Entre os temas necessários em sua reflexão e ação o MEP entende que muitos têm caráter de urgência entre eles: reforma política (proposta a ser discutida no próximo encontro), ampliação da reforma agrária, incentivo ao cooperativismo, a favor da reforma tributária, fortalecimento da defensoria pública, igualdade racial, mais moradia, defesa do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e do Estatuto do Idoso,  contra a violência doméstica, a favor da jornada de trabalho em 40 horas semanais, re-estatização da Petrobrás – com o fim de concessões para exploração das jazidas brasileiras de petróleo e gás por multinacionais, revisão da política carcerária, mais investimentos em educação e saúde.

Com o objetivo de atualizar seu rol de filiados e simpatizantes decidiu-se pelo recadastramento dos membros filiados ao MEP (mepcadastramento@gmail.com), e a disponibilização da listagem dos filiados na Home Page do Movimento. Definiu-se também pela prática da política de finanças definida no estatuto do Movimento.

A complexa conjuntura nacional e internacional apresenta-nos uma série de fatos aos quais precisamos manter-nos atentos, entre estes: a vitória do primeiro presidente negro da história dos EUA, as incertezas relacionadas à crise financeira internacional, a vitória de candidatos progressistas ou esquerdistas em países da América Latina, as novas formas da violência internacional como os "novos piratas" que atuam na costa africana, o roubo de patentes de paises pobres por paises ricos, a neurose em massa do terrorismo, o tsunami das informações em nossos microcomputadores, as tragédias do aquecimento global. Tudo isto, remete o cristão a uma distinta postura perante o mundo.

O Profeta Amós 8,11 diz: "Eis que vêm os dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor." As indagações pertinentes e motivadoras, entre outras são: Que sociedade desejamos construir? Quais são os líderes que apresentamos a comunidade? Qual nosso  papel (igreja e indivíduo) nesta sociedade?   Estas questões, entre outras que percorrem nossas inquietações, não querem se calar.

É neste redemoinho que a voz profética do MEP deve-se expressar. 
Conclamamos os mepeanos  a que se envolvam e participem das ações do MEP em todo o país, seguindo sempre o lema do Movimento inspirado no mesmo Profeta Amós: “Até que corra a justiça como um riacho perene” (capítulo 5, versículo 24). Aproveitamos para manifestar a nossa solidariedade às vítimas das enchentes nos Estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro.





segunda-feira, 1 de outubro de 2012

IX Encontro Estadual MEP - 2011

Diretoria do MEP-SP

Presidente: Mateus Rodrigues - Igreja do Nazareno - São Bernardo do Campo
Vice-presidente: Marcelo Rezende - Assembléia de Deus - Hortolândia
1º Secretário - José Macedo - Igreja Batista - São Bernardo do Campo
2º Secretári - Marco de Aquino Filho - Igreja do Nazareno - Santo André
1º Tesoureiro - Geziel Santos - Igreja Presbiteiana - Campinas
2º Tesoureiro - Getúlio Galvão - Assembléia de Deus - Sorocaba

Conselho Fiscal: Odair Marques - Igreja do Nazareno - Campinas
Everlandio Silva - 1ª Igreja Batista - São Bernardo do Campo
Mirian Locatelli Silva - Igreja do Nazareno - Campinas

Comissão de Formação Política: Nelson Gervoni
Rubens Rodrigues - Bola de Neve - Praia Grande
Hélio Rios - Igreja Presbiteriana - São Paulo

Diálogo Intereligioso - José Guido - Adventista - São Paulo



O MEP - Movimento Evangélico Progressista realizou o IX Encontro Estadual no sábado dia 14 de maio, no auditório da Câmara Municipal de São Bernardo. Após uma apresentação teatral do Grupo Semearte, o presidente nacional Valmir Paze fez uma reflexão dos passos do movimento e abriu a discussão com os presentes. O educador Odair Marques, o pastor Geziel Santos e o pastor Hélio Rios, assim como os demais presentes também fizeram sua contribuição ao debate. Além de mepeanos do ABC, o encontro teve representantes de Hortolândia, Campinas e Sorocaba que teve a presença de Getúlio Galvão do Fórum de Evangélicos.
O encontro referendou mais um mandato ao jornalista Mateus Rodrigues à frente do MEP no Estado de São Paulo. Outro tema debatido no encontro foi o Projeto de Lei 122/2006 que se encontra no senado. Os presentes decidiram pelo envio de uma moção ao senado onde defendem que seja garantido o respeito à liberdade de expressão e religiosa, que embora estejam estabelecidos na Constituição, esses direitos correm risco caso o PL 112 seja aprovado. Os presentes reafirmaram ainda que são contra a discriminação e a violência contra os homossexuais, assim como a qualquer indivíduo.

Informações:   Mateus Rodrigues  (www.cosmopolitano.com.br)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Carta Pastoral 2012 Aliança Evangélica


Carta Pastoral
A vocação cristã para o voto cidadão

E procurai a paz da cidade… e orai por ela ao Senhor: porque na sua paz vós tereis paz. (Jr 29:7)

Caros irmãos e irmãs,

Aos nos aproximarmos das eleições municipais em outubro queremos celebrar a nossa democracia e o privilégio de contribuir, através do nosso voto, para a construção de uma sociedade mais sólida e participativa. Votar solidifica a democracia e queremos fazer parte deste processo. Reconhecemos que nos últimos anos o Brasil tem mudado muito e para melhor, mas o que preocupa sobretudo, neste novo período eleitoral, é que o nosso sistema político partidário é arcaico e viciado. Não responde às demandas atuais, ignora as possibilidades gerenciais e tecnológicas disponíveis e carece de profundas mudanças sistêmicas, programáticas e éticas. Este sistema precisa mudar e nossos políticos precisam adequar-se às necessidades de uma sociedade mais justa, mais transparente e mais participativa.
Votar é uma forma de contribuirmos, como brasileiros e brasileiras, para a construção da nossa nação. Como cristãos evangélicos, comprometidos com os destinos do país, vamos votar nesta consciência e convidar todos ao nosso redor a fazerem o mesmo.
Como cristãos evangélicos, nos identificamos com a advertência do profeta Jeremias ao seu povo: Procurai a paz da cidade e orai por ela ao Senhor, porque na sua paz vós tereis paz. É por esta razão que, nas eleições que se aproximam, queremos caminhar para as urnas movidos por princípios que consideramos centrais:

- O voto é exercício de cidadania. É secreto e tem de ser responsável. Não está à venda e não pode ser produto de negociações manipuladoras. "Voto de cajado" é voto aviltado e precisa ser denunciado.
- A igreja é de Jesus Cristo e não pode ser identificada com nenhum partido político. O púlpito é sagrado e não pode ser usado como plataforma política de candidato algum.
- Votemos no que consideramos melhor para a cidade e não em busca de favores pessoais ou mesmo de grupos.
- Votemos em candidatos que afirmem e tenham histórias de vida que reflitam os valores do Reino de Deus, entre os quais justiça, liberdade e
verdade.

Caminhemos, pois, para o dia 07/10/2012 valorizando o nosso voto e o voto de todos, conscientes de que assim contribuiremos para a construção de uma sociedade democrática que não se esquece do outro, especialmente do pobre e do pequeno, e cujos resultados nos levem a dizer: Soli Deo Gloria!

Graça e paz!

Aliança Cristã Evangélica Brasileira

domingo, 9 de setembro de 2012

Homenagem ao Bispo Robinson Cavalcanti

 
CONSELHO LATINO-AMERICANO DE IGREJAS
Secretaria Regional para o Brasil
MOVIMENTO EVANGÉLICO PROGRESSISTA

OS CRISTÃOS PROGRESSISTAS

E A CRISE DA ESQUERDA NO BRASIL

Dom Robinson Cavalcanti
Bispo da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Palestra apresentada no Encontro promovido pelo CLAI (Secretaria Regional para o Brasil) e pelo Movimento Evangélico Progressista em Brasília, 29 de agosto de 2003.
A história dos povos continuará como sempre foi: uma parcela da população encara os sistemas vigentes como “normais”, “inevitáveis”, e, até “bons”. Neles as desigualdades são vistas como “da natureza das coisas”, “é assim mesmo”, ou, até mesmo ”é como Deus quer”. A sua reflexão, sistematizada ou não, é denominada porKarl Manheim, de Ideologia: a justifica racional do status quo. Serão essas pessoas chamadas de “conservadoras”, e, em suas manifestações mais exaltadas, de “reacionárias”: os que reagem contra as mudanças, encaradas, em princípio, como sempre más. As mobilizações por alteração nesse desenho social assimétrico, desigual, concentrador, rigidamente estratificado, serão emocionalmente denominadas de “anarquia” ou “baderna” e os seus lideres receberão o epíteto de “agitadores” ou “subversivos”.
 A Ideologia tem maiores seguidores entre os que estão no topo da pirâmide social, usufruem privilégios, e se sentem ameaçados, e (para alguns, surpreendentes): entre os que se encontram na base da pirâmide social, excluídos, oprimidos ou explorados, com uma visão fatalista ou o temor (às vezes inconscientes) da repressão. Para estes é introjetado um pensar o mundo a partir da ótica dos de cima (hegemonia). Qualquer sentimento de mudança para uma situação melhor não inclui uma consciência de mobilização e reivindicação, mas a esperança na caridade dos de cima, no príncipe ilustrado e bondoso, na retórica populista ou no apelo messiânico.
Há sempre segmento dos conservadores que defendem mudanças setoriais, acidentais, secundárias no sistema, sem que estas venham a questioná-lo ou comprometê-lo. Denominemo-los de “reformistas”.
 Esses conservadores – moderados ou exaltados, reformistas ou reacionários – em qualquer época ou sistema, formam o que ficou denominado (desde a Assembléia Nacional francesa pós-revolucionária) de direita.
Uma outra parcela da população, contudo, tende a encarar os sistemas vigentes como “antinaturais”, “anormais”, “evitáveis”, “maus” e cuja substituição por outros que melhor expressem a justiça e a igualdade, deve ser tido como ”possível”, “necessário”, e, até mesmo como “inevitável”. A sua reflexão, sistematizada ou não, é denominada por Karl Manheim, como Utopia: a critica e a denúncia ao status quo, o sinalizar de alternativas. Há a crença na necessidade de um processo educativo de conscientização, de mobilização, de reivindicação, com o surgimento de líderes e de intelectuais comprometidos. Todo esse esforço se fez com um apelo ético e a crença que se constitui em uma ampliação do conceito de cidadania.
As utopias tendem a ter mais seguidores dentre os estratos médios da pirâmide social, aqueles com um nível razoável de instrução e renda, e tempo livre para a leitura e a militância.
É claro que, nem sempre, a situação de classe corresponde à consciência de classe.
Dentre os proponentes das utopias encontramos os que as defendem de forma gradual e pacífica, ou de forma mais rápida e violenta. São elas: os “reformistas” e os “revolucionários” de várias matizes. Esse conjunto (também desde a Assembléia Nacional francesa pós-revolucionária), forma o que é conhecido como a esquerda. Centro, centro-esquerda, centro-direita são semitons, ou variações, do mesmo fenômeno.
 Politicamente, a direita já representou a defesa da monarquia absoluta e das ditaduras republicanas, como autoritarismos, ou o fascismo e o nazismo como totalitarismos, vinculada hoje à democracia partidária representativa formal. Economicamente, a direita já representou a defesa do modo escravista e feudal (servidão), vinculada hoje ao modo de produção capitalista, com suas variações.
Politicamente, a esquerda já representou a defesa da revolução burguesa (liberal), do socialismo utópico e da ditadura dita do proletariado (hoje com, ainda, remanescentes), vinculada hoje ao aprofundamento social e econômico da democracia, com maiores mecanismos de participação e controle popular. Economicamente, a esquerda tem defendido a substituição do capitalismo por formas socialistas ou pós-capitalistas de produção, ou a humanização do capitalismo, pondo os resultados de sua dinâmica à disposição de setores mais ampliados da população (social-democracia, terceira via etc.).
Há, na conjuntura atual, algo mais do que uma mera hegemonia da direita (pensamento neo-liberal), mas um domínio da direita, com o monopólio geopolítico do império norte-americano, e o oligopólio geopolítico dos seus associados (G-8), com fortes instrumentos internacionais de controle (FMI, OMC, Banco Mundial) e de multinacionais. A soberania nacional, a autodeterminação dos povos, a soberania popular, as reais possibilidades de um leque de opções são brutalmente limitadas pela ameaça de intervenções militares ou sanções econômicas.
A consciência de que os candidatos podem apenas propor alternativas adjetivas, no secundário, e, que, na verdade se constituem em meros administradores, sem autonomia, leva ao descrédito da rotina formal das eleições, e do próprio sistema democrático.
É claro que dentro do sistema capitalista internacional e nacional continuará a haver diferenças entre os seus atores, como “conflitos compostos” (expressão de Luciano Martins) que sempre existem entre frações diferentes dentro dos estratos dominantes.
A política – inclusive internacional – é algo dinâmico e mutável. Falharam todos os que quiseram controlar a História. Antes, a História é um cemitério de impérios e um museu de tiranos, sempre com um lugar preparado para o próximo. As pessoas continuam a pensar, se inconformar e propor, negando a validade do determinismo do “Fim da História” (Francis Fukuyama). A opinião pública internacional diante da invasão norte-americana ao Iraque, ou às reuniões da OMC, e o Fórum Social Mundial são sinais dessa vitalidade, com desdobramentos imprevisíveis.
Há uma consciência crescente no valor de cada pessoa e de cada cultura, no direito inalienável à autodeterminação dos povos em um sistema internacional multilateral, e que o modo de produção capitalista não é o fim de todo o pensamento econômico.
Nessa conjuntura se insere o Brasil, historicamente e estruturalmente desigual e excludente, com sua circulação de elites e mudanças conservadoras, sempre “pelo alto”, pelos atores “de cima”, seja a Independência ou a Abolição, a República ou a Revolução Burguesa de 30, o ciclo militar ou a “Nova República”.
O liberalismo, como proposta de mudança no século XIX era empalmado pelos mesmos bacharéis, tornando uma realidade a descrição de que “nada tão parecido com um conservador quanto um liberal no poder”. A República nos vem na esteira do autoritarismo positivista nos meios militares. O Anarquismo e o socialismo utópico (embrião do nosso sindicalismo) nos chega entre imigrantes, e nunca deita raízes. O Marxismo terá a liderança de um oficial do Exército, recrutando a maioria dos seus quadros nos estratos médios, submissos aos ditames de uma potência estrangeira: a União Soviética. O sindicalismo foi cooptado pelo Varguismo.
O grande fato novo, pós-ciclo-militar foi o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT), como uma nova esquerda mobilizadora, surgidos de baixo, não-dogmática, e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), como sindicalismo combativo independente, e a articulação de ambos com diversos movimentos sociais, inclusive os segmentos religiosos progressistas.
A esquerda brasileira foi revitalizada no mesmo momento em que entrava em crise em um mundo que se “en-direita-va...”.
Pretendia-se caminhar em um “partido sem patrões”, organizado na base em núcleos, articulados com a sociedade, “rumo ao socialismo”, de forma plural e criativa, sem alianças espúrias, apostando-se na ética na política, na transparência e na participação popular, vivendo-se as micro-utopias possíveis nas gestões municipais, ampliando-se a presença e a influência na academia e no parlamento, no movimento estudantil, entre as mulheres, os negros, os sem-terra, os sem-teto e outros segmentos discriminados ou excluídos.
Vinte anos de experiência pedagógica, de acumulação de estudos e de propostas, formação de quadros, campanhas memoráveis, “sem medo de ser feliz”.
Mas, sem que a maioria se aperceber-se, o Partido dos Trabalhadores foi mudando. Claramente, “não é mais aquele”. Os núcleos foram desaparecendo, o controle da máquina partidária foi sendo ocupado por quadros profissionalizados, as lideranças se tornando parlamentares, secretários municipais ou assessores em ambos os poderes, um “bloco majoritário” impõe a sua vontade sobre os minoritários condenados eternamente a serem minoritários, pouco mais podendo fazer do que o “jus sperniandi”...
Ao contrário dos seus congêneres europeus, as mudanças ideológicas não foram resultado de um amplo, profundo e demorado debate interno e externo. O PT não teve o seu Bad-Godesberg. Foi dormir socialista com a “Carta de Olinda”, e acordou social-democrata com a “Carta ao Povo Brasileiro”, elaborada a poucas mãos, imposta de cima para baixo. A quarta campanha presidencial privilegiou o plástico e o emocional, o vago e o superficial. O resultado imediato seria a vitória da esperança sobre o medo, como caminho para a mudança, sem que soubéssemos exatamente quais, como, com que parceiros e a que preço.
Na campanha os simples, ingênuos e puristas militantes foram obrigados a subir nos palanques com as lustrosas raposas das corrompidas oligarquias regionais (o que foi particularmente dramático no caso do nordeste).
O antigo “partido sem patrões” arranjou um patrão para a vice-presidência. O Império foi tranqüilizado, como tranqüilizado foi esse ente aparentemente etéreo chamado de “mercado”. O FMI aprovou um “socialista moderno”. A grande imprensa passou a apoiar o “governo das mudanças”. Mas que tipo de mudanças?
A aparente desorientação, a aparente falta de programa, ou falta de propostas, não significa que o PT não as tivesse, (e muitas e boas), mas, sim, o seu abandono, em um processo de ruptura com a História, de negação do passado. Há que se construir novos programas, apressadamente, inconsistentemente, com os novos parceiros e a nova ideologia.
Houve o fato simbólico da eleição de um “homem do povo”, a incorporação de quadros de uma contra-elite ao aparelho de Estado (reduzindo, ao menos, nesse caso, o desemprego...), novos símbolos, novas retóricas, novas caras, novos nomes. E daí? A velhíssima política macro-econômica dos superávits primários, do alto juro, do alto desemprego. A requentada “reforma da previdência”, evitando-se as questões de fundos, empurrada de goela abaixo, demonizando-se os servidores públicos, caçando-se os marajás...
Tudo em nome de um pretenso “projeto estratégico”, que ninguém sabe qual é. Apelou-se para a intolerância de um centralismo democrático, e a pecha de “radicais” para quem pretendeu ser coerente com a história e a identidade.
A frustração parece que venceu a esperança, sacrificada no altar do realismo.
A CUT vai “batendo fofo”, em um pêndulo ainda não decidido entre a “correia de transmissão” e o neo-peleguismo. Afaga-se, ainda, retoricamente, os movimentos sociais, mas, na prática se os trata como “questão de polícia”, na manutenção da Lei e da Ordem.
O Pacto com as elites vai se consolidando. A aproximação meio-populista, meio-messiânica com as massas desarticuladas vai-se processando. Dos conscientes e incômodos setores médios (os fiéis eleitores) vai-se afastando. Dentre estes, o funcionalismo público já foi rifado, e os intelectuais críticos censurados.
A transição para a social-democracia, para a terceira, quarta ou não-sei-o-que- via, vai-se dando, em marcha inexorável, sem dó, nem piedade, ressalvada a ética e as boas intenções de alguns atores coadjuvantes. Pretende-se, com o apoio técnico dos marqueteiros, ampliar a filiação partidária sem consistência, sem massa crítica. Não há mobilização, não há conscientização, não há crítica ao sistema, não há construção de utopias, o espaço do protesto dá lugar a um silêncio que dói.
Não se pode usar a desculpa do “pouco” tempo de governo para uma avaliação. O que importa são as sinalizações. Avaliar, é, ainda tentar reverter.
Uma página da história política brasileira parece que foi precocemente (e lamentavelmente) virada. Temos que ser honestos: há uma profunda crise na esquerda. Os intelectuais, a classe trabalhadora, os servidores estão se sentindo órfãos.
Vale a pergunta clássica: E agora o que fazer?
De um lado há frações de esquerda dentro dos ex-partidos de esquerda, como o próprio PT, o PcdoB, o PSB, o PDT. Há os partidos da chamada “ultra-esquerda”, que hoje, pelos menos, tem tido o papel de lembrar ao conjunto da esquerda partidária as teses abandonadas e as bandeiras arriadas. Não sei se serão capazes de se unirem em um novo partido autenticamente de esquerda no Brasil. Temos setores de esquerda no movimento sindical, no movimento popular, nas organizações não-governamentais, entre intelectuais e no mundo religioso.
E aí nos lembramos de duas coisas: A esquerda conseguirá superar, de forma dinâmica, os paradigmas do passado (o marxismo e suas variações, em especial o stalinismo, o leninismo, o trotskismo), retendo apenas o que for válido para hoje? Haverá uma nova síntese? Construirão novos paradigmas?
O capitalismo é uma patologia social. Remédios foram tentados, com prescrições equivocadas ou efeitos colaterais negativos indesejáveis. As pesquisas, os experimentos, devem continuar, porque o fracasso de uma terapia não transforma a doença em sanidade.
Outros aspectos, são as idéias de Gramsci, quando previa que as grandes transformações poderiam não advir pelo aparelho de Estado, mas pela Sociedade Civil. Sociedade Civil onde se situam as instituições religiosas, inclusive o rico e amplo acervo de pensamento socialista acumulado através dos séculos pelo cristianismo católico-romano, ortodoxo e protestante, pelo judaísmo e pelo Islã, e, até, em religiões fora do monoteísmo semita, estudadas antes de 1964, desconhecidas pela presente geração pós-marxista.
O socialismo materialista contemporâneo ocupou o cenário da esquerda (mesmo sendo versões seculares do pensamento religioso) e hoje é imperativo o diálogo, o intercâmbio, o encontro fecundo dessas duas vertentes.
Seja, negativamente, legitimando os colonizadores ou o domínio oligárquico, seja, positivamente, defendendo os indígenas e a justiça social, o Cristianismo é parte histórico-cultural visceral da realidade latino-americana.
Por isso, já se afirmou que “As igrejas não farão a revolução na América Latina, mas não acontecerá sem elas”.
Pertenço a uma geração que alcançou a busca de saídas por uma esquerda cristã não-marxista, com a difusão entre nós do pensamento católico-romano progressista francês, dademocracia integral e do solidarismo, com nomes como Maritain, Mounier, Gabriel Marcel ou o Pe. Lebret, da reflexão social do movimento ecumênico, do personalismo cristão de umMartin Luther King. Protestantes que não podiam se esquecer dos ensinos sociais das Sagradas Escrituras, os episódios pós-reforma dos Niveladores e dos Cavadores, ou dos contemporâneos movimentos do Socialismo Religioso e do Socialismo Cristão. Mesma época de um vigoroso movimento socialista entre a juventude judaica brasileira.
Essa construção se retrai com a hegemonia do marxismo, para, posteriormente, vermos se disseminar entre nós a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral da Igreja.
O crescimento vertiginoso do fundamentalismo protestante na América Latina durante o ciclo de ditaduras militares1 (que apoiavam, ativa ou passivamente) reprimiu e reduziu uma caminhada, reproduziu-se, com atraso, a polarização norte-americana entre “Evangelho Social” e “Evangelho Individual”, promoveu-se a alienação política, o direitismo autoritário, o pragmatismo clientelista, e, com a Teologia da Prosperidade, a sacralização do Capitalismo.
Se usarmos a imagem do Monte da Transfiguração, podemos dizer que a tendência pentecostal ou carismática tendeu a optar pela proposta do Apóstolo Pedro, de acampar e curtir a experiência mística, e que a Teologia da Libertação tendeu a ir direto para os vales, sem passar pelo monte. Quando o movimento contínuo entre monte e vale é parte integral do exemplo do ministério e missão de Jesus de Nazaré e de seus discípulos.
Temos valorizado a contribuição do Congresso de Lausanne e seu Pacto, e da Fraternidade Teológica Latino-Americana, para a disseminação da proposta da Teologia da Missão Integral da Igreja em nosso continente e em nosso país. O MEP – Movimento Evangélico Progressista é uma legitima expressão desse momento histórico.
O que seria, então, esses “cristãos progressistas (particularmente os evangélicos progressistas), e qual o seu papel diante da profunda crise por que passa a esquerda no Brasil?
Lembro-me do debate sobre a nomenclatura mais adequada quando da fundação do MEP: “evangélicos de esquerda”? “evangélicos revolucionários”? “evangélicos socialistas”? Optamos pela expressão menos controvertida de “progressistas”, embora isso lembre um conceito positivista. Hoje poderíamos falar em um “cristianismo profético”, em “Igreja profética”, em cristãos que incluem o profetismo (denúncia das estruturas iníquas da sociedade) em seu conceito de Missão, a serviço do Reino de Deus.
Os anos 80-90, a partir da crise do regime militar presenciaram o ressurgimento de um “evangelicalismo progressista”, com alguns veteranos e muitos jovens, desejosos de conciliar sua fé com sua prática, e de resgatar a herança dos evangélicos abolicionistas, republicanos, democratas e socialistas. Timidamente, com o movimento pela anistia, e com mais desenvoltura com a campanha das “diretas já”, pela “Assembléia Constituinte” e no episodio do “Fora Collor”. Um marco importante foi as eleições presidenciais de 1989, e o surgimento do “Movimento Evangélico pró-Lula”, espaço de abnegação e idealismo, incompreendido tanto pelas Igrejas, quanto pelos partidos de esquerda, e que conseguiu se organizar nacionalmente. Para João Amazonas, então presidente do PCdoB, “foi o fato novo mais importante da campanha”.
O MEP surge em 1990 com o sentimento de continuidade e aprofundamento de um discipulado integral, que inclui a cidadania responsável. Um importante movimento de opinião, afirmando a compatibilidade entre a fé cristã reformada, protestante, evangélica, com a democracia e o socialismo. O MEP estimulou essa militância nos partidos de esquerda, nos movimentos sociais e nos sindicatos filiados à CUT.
As campanhas presidenciais de 1994 e 1998, além de campanhas estaduais e municipais, aprofundaram e ampliaram esse leque de participação, vendo-se o desabrochar de uma nova geração de evangélicos, compartilhando sonhos e lutas, pela ética na política, pela cidadania plena, pela justiça social, por um modo de produção humano e solidário.
Grande parte dessa geração heróica nem sequer foi lembrada pela presente administração federal, que prestigiou fisiológicos adesistas conhecidos, e, o que é pior, históricos adversários de sua proposta. Isso tem causado perplexidade, tristeza, desapontamento. O que tem prevalecido? O potencial quantitativo de votos de uma denominação? Interesses regionais futuros? Uma ética de resultados que substitui uma ética de princípios? O realismo no lugar do idealismo? Não seriam os evangélicos progressistas “indesejáveis” agora porque são principistas, puristas, coerentes?
No cenário atual estamos fragmentados, como evangélicos progressistas:
  1. os que estão no governo integrados (confortável ou desconfortavelmente) ao bloco majoritário;
  2. os que estão no governo, no sufoco, fazendo parte dos grupos minoritários, assustados ou atemorizados diante da virulência do “rolo compressor”;
  3. os que procuram se equilibrar em um apoio crítico e uma discordância propositiva;
  4. e, os que se sentem empurrados para o caminho da oposição, não querendo a desconfortável companhia co-beligerante da direita.
O quadro é surpreendente e confuso. Nessas circunstâncias é sempre bom nos voltarmos aos princípios que devem nortear, sempre, em toda época e lugar, a participação política dos cristãos, sem querermos emitir julgamentos sobre os que vivenciam essas alternativas.
Que princípios seriam esses?
  1. Desde César até Hitler afirmamos um só Senhor, Jesus Cristo, e uma lealdade única e absoluta a Ele, sua mensagem e suas demandas. Todas as demais coisas da Criação – inclusive o mundo da política – por mais importantes que sejam, são secundárias em nossa lealdade, e devem ser medidas por sua adequação ou não aos valores do Reino de Deus, de Justiça e Paz, Honestidade e Amor;
  2. Jesus rejeitou a opção adesista e fisiológica dos herodianos, o racionalismo pragmático dos saduceus, o formalismo conservador dos fariseus, a alienação isolacionista dos essênios e a luta armada pretendida pelos zelotes. A opção do Reino de Deus é algo mais e mais profundo, com os pés na História, mas comprometidos com o conteúdo da revelação e a iluminação do Espírito Santo;
  3. Nenhum partido político, ideologia ou governo podem ser identificados com o Reino de Deus. A nossa participação será sempre crítica, o que acarreta incompreensões e retaliações tantas vezes;
  4. A postura da Igreja como instituição deverá ser sempre, em todas as épocas, lugares e regimes, de independência. Somos a agência do Reino de Deus, sua vanguarda, ensaio e sinal na História. Em decorrência, condenados a tentação teocrática de tutelar os governos, a tentação césaro-papista de sermos tutelados pelo governo e a tentação secularista, de estarmos a reboque do Estado e da Cultura sem transcendência. Devemos nos constituir em uma consciência moral da nação. Uma escola de estadistas e de cidadãos éticos e responsáveis.
Não é nosso papel sacralizar o capitalismo com a Teologia da Prosperidade, buscando privilégios pessoais e corporativos, insensíveis à injustiça e à opressão, associando-nos acriticamente e aulicamente aos governantes na busca de vantagens. Devemos resistir a tentação do poder. Devemos resistir à tentação do silêncio culposo. Devemos considerar que discipulado acarreta sempre o risco da martíria.
Devemos interceder sempre pela realidade sócio-político-econômica do mundo e do nosso país. Devemos conhecer bem essa realidade, sendo bem informados. Devemos nos posicionar diante dessa realidade, nem como ingênuos, nem como interesseiros. Devemos permitir que o Espírito Santo de Deus flua em nós a ira santa, a santa indignação dos profetas diante do pecado social e estrutural de regimes, culturas e nações.
É nosso papel afirmar e denunciar, protestar e propor, “sendo diferentes e fazendo diferença”.
Afirmemos a Providência de Deus sobre a História, alimentemos a “in-conformação com este mundo”, pensemos os pensamentos de Deus, pois, como afirma o apóstolo Paulo: “vós tendes a mente de Cristo”. Estimulemos a criatividade, devolvamos a esperança.
Não advogo nem a continuidade de um apoio incondicional a um governo com quem temos óbvias e marcantes diferenças, nem uma ruptura completa, lavando as mãos enquanto ele vai se deslocando cada vez mais para a direita e a integração às elites dirigentes e ao sistema capitalista. Não temos outra alternativa imediata do que o apoio tópico e a oposição tópica, caso a caso, tema a tema. Queremos o bem estar da Pátria e dos brasileiros, mas não somos vocacionados a melhor gerir o capitalismo que os próprios capitalistas. É nosso dever analisá-lo. É nosso dever desenvolver uma massa crítica. É nosso dever procurar superá-lo. O que está aí é algo, mas é muito pouco, e muito aquém. Não é uma tensão irracional e irresponsável entre o “possível” e o “desejável”, mas a conscientização e a mobilização permanente em torno de algo maior no futuro, que transcende os limites do atual governo.
Sonhamos que a terra que a Deus pertence, também pertença ao povo que Deus criou. Sonhamos que todos ganhem o seu pão com o suor do seu rosto e não com o suor do rosto do próximo. Na Bíblia a escravidão, a servidão e o emprego aparecem em textos descritivos e com a ética possível naquelas conjunturas, mas Deus não criou o emprego, Ele criou o trabalho e o lazer (no sétimo dia).
Um dia todos trabalharão para si, como pessoas, como famílias, como comunidades.
A nostalgia da perfeição social da Ordem da Criação perdida no Jardim do Éden, e o suspiro pela perfeição social da Ordem da Restauração readquirida quando vier a Nova Jerusalém, nos motiva, a partir dos ensinamentos sociais das Sagradas Escrituras e da experiência histórica da Igreja, iluminados pelo Espírito Santo, a viver o possível da História, lutando pela superação do mal, “perseguindo altos ideais”.
A esquerda brasileira vive uma das mais profundas crises da sua história, e não adianta fazer de conta que não é assim. Há dor, há decepção, há frustração. Sejamos parte da solução e não do problema.
Que o Senhor da História nos dê visões, nos dê discernimento, nos dê lucidez, nos dê determinação, nos dê coragem. Coragem para ser. Coragem para falar. Coragem para criar. Coragem para propor. Coragem para sofrer.
A esquerda não morreu, mas renascerá sempre das cinzas. A Igreja Profética será capelã dessa gênese do novo.
As coisas velhas já passaram, mas eis que algo de novo está surgindo”.
Ele aperfeiçoará a sua força em nossas fraquezas.
Tornemos o Evangelho relevante para a nossa geração.
Os in-conformados de Deus não estão derrotados.
Que Ele nos ajude.
E a Ele toda a glória!

O Texto acima é da responsabilidade do seu autor, e não representa necessariamente a opinião do CLAI e da sua Secretaria Regional para o Brasil, ou do Movimento Evangélico Progressista.
1 Anos 60 – 90

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